Tuesday, October 25, 2005

Sons do Brasil dos anos 70-O psicadelismo e Rock Progressivo

O desprezo pelas edições em CD de discos antigos parece ser comum nos PALOP.
Também no Brasil existem preciosidade que nunca foram editadas em CD.
Como exemplo citamos O LP 'No Sub Reino dos Metazoários', de Marconi Notaro, é dos expoentes da cena psicodélica nordestina. Lançado em 1973, enquadra-se na linha de obras como os discos de Lula Côrtes & Lailson - 'Paebirú' e 'Satwa', clássicos da psicodelia nacional.
Ultra-psicodélico em alguns momentos, como na faixa, o disco abre com o samba 'Desmantelado' (composto por Notari em 1968, "nos áureos tempos do Teatro Popular do Nordeste), com o regional formado por Notari, Robertinho de Recife, Zé Ramalho e Lula, entre outros. A segunda faixa, 'Ah Vida Ávida', com 'Notaro jogando água na cacimba de Itamaracá', mais Lula na 'cítara popular' e Zé Ramalho na viola indicam o que vem a seguir, um misto de alucinada psicodelia com pinceladas da mais singela música popular, como o frevinho 'Fidelidade' (... "permaneço fiel às minhas origens, filho de Deus, sobrinho de Satã" ...).
O momento mais radical disco álbum é a quinta faixa, 'Made in PB', parceria de Notaro com Zé Ramalho, um rockaço clássico, destacando a guitarra distorcida de Robertinho de Recife e efeitos de eco. As músicas 'Antropológicas 1' e 'Antropológica 2', como a maioria das outras canções, são improvisos de estúdio, reunindo os músicos já citados, com ótimo resultado sonoro e poético.
Com produção do pessoal do grupo multimídia de Lula Côrtes e sua mulher Kátia Mesel, o disco foi gravado nos estúdio da TV Universitária de Recife e da gravadora Rozenblit, também na capital pernambucana. A capa é um desenho de Lula Côrtes, tão chapado esteticamente quanto o som que o tosco papelão embalava, com um foto de Marconi Notaro no centro, com o rosto dividido entre a capa frontal e a contracapa.
O álbum, infelizmente, como a maioria do catálogo da Rozenblit permanece inédito, esperando uma cuidada reedição oficial. O LP original é praticamente impossível de ser encontrado, mas uma ótima cópia em CDr já circula no universo de colecionadores.
The Galaxies
- The Galaxies

Lançado em 1968, The Galaxies, uma das maiores raridades da garagem e da psicodelia tropical, foi gravado pelo selo Som Maior, em São Paulo. Formado pelo inglês David Charles Odams (guitarra e vocal), pela americana Jocelyn Ann Odams (maracas e vocal) e pelos brasileiros Alcindo Maciel (guitarra e vocal) e José Carlos de Aquino (guitarra e bateria), o grupo destacou-se no circuito de garagem da capital paulista.
O repertório do disco traz clássicos como o original Linda Lee e os covers para I’m Not Talking e Orange Skies e Que Vida, ambas do grupo americano Love, além de outras peças de blues e sucessos da época. Apesar das dificuldades de gravação da época, o álbum tem boa qualidade técnica, instrumental e vocais bem colocadas, particularmente devido ao domínio que seus integrantes tinha do inglês.
Também tocou no disco o guitarrista Carlos Eduardo Aun (Tuca), que não aparece na ficha técnica porque, na mesma época, era titular dos Baobás. Inédito em cd, é um dos álbuns mais procurados pelos colecionadores inte Spectrum
- Geração Bendita
Era 1971, dois anos pós-Woodstock, e a juventude brasileira ainda vivia os efeitos da "Era de Aquarius", mesmo que de forma uma pouca tardia. Em meio a onda de paz e amor, um grupo de jovens músicos e cineastas de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, mergulhou fundo na produção do que se chamou na época de "o primeiro filme hippie brasileiro". Intitulado "Geração Bendita", o filme dirigido por Carlos Bini, e rodado na região, deixou registrado, além das imagens de uma época, uma trilha sonora tão surpreendente quanto rara.
Gravado nos estúdio da Todamérica, no Rio de Janeiro, o disco também chamado "Geração Bendita" é assinado pelo grupo Spectrum, formado por ex-membros da banda 2000 Volts e atores/músicos do filme. Integravam o grupo os músicos Caetano, Serginho, David, Fernando e Toby, que dividiam os instrumentos e as composições feitas em parceria. Com idade média de 21 anos, a experiência do grupo resumia-se à cena local, onde iniciaram tocando covers de Beatles "tão bem feito que chegavam, por vezes, a achar que o som era de rádio, ou de gravador", diz hoje o guitarrista Caetano.
O álbum com pouco mais de trinta minutos reúne doze canções, com letras em português e algumas em inglês, em sua maioria falando de paz, amor liberdade, natureza e outros temas e valores expressivos do período. O instrumental, com profusão das fuzz-guitar a varrer, e os vocais à la Beatles, sintonizavam com a produção mundial e situava o trabalho do grupo acima do padrão nacional da época. Caetano lembra hoje que o disco chamou a atenção dos disc-jockeys Big Boy e Ademir, mas acabou ignorado pelo mídia. Espaço natural para divulgação do álbum, o jornal Rolling Stone, em sua versão nacional, só veio a público no início de 1972, quando o grupo já não mais existia.
"Não tinhamos recursos técnicos, os instrumentos eram nacionais, de segunda, terceira mão, mas havia uma coisa maior que nos movia, que era o sentimento daquela geração", conta Caetano, que ainda tocou por algum tempo na região. Tanto ele quanto outros integrantes da banda, ainda moram em Nova Friburgo e partilham com a cidade e inúmeros hoje ilustres moradores a memória daqueles "momentos mágicos, coloridos e intensamente vividos". Recentemete, por iniciativa de Caetano, e de outros remanescentes do movimento, chegou-se a tentar a realização de um festival, que resumiu-se em uma sessão do filme, sem ir adiante.
Nova Friburgo e outras cidades da Região Serrana do Rio de Janeiro foram pólo de atração de grupos musicais e comunidades hippies que para lá transferiram-se em busca de "paz, harmonia e contato com a natureza". Um dos grupos que andou por lá uns tempos foi o gaúcho Liverpool, antes de transformar-se no Bixo da Seda, em 1974. O mais famoso foi o Mutantes, já contando apenas com Sérgio Dias da formação original, que instalou-se em uma casa em Nova Petrópolis. Nova Friburgo, de forma especial, contava com uma cena local forte, com diversos grupos da região e presença de bandas do Rio de Janeiro que lá iam tocar, como A Bolha e Analfabitles, entre outras.
Apesar de ignorado em sua época, o álbum resistiu ao tempo e, hoje, ocupa os primeiros lugares nas "want lists" (procurados) de colecionadores mundiais de raridades psicodélicas (é um dos lps do livro "2001 Record Collector Dreams", editado pelo austríaco Hans Pokora, que reúne capas de discos raros de todo o mundo). Um interesse que, recentemente, chamou a atenção de selos estrangeiros especializados em reedições limitadas em vinil - 180 gramas, e mesmo em cd, que buscaram contato com a banda para relançar o álbum. Assunto que vem sendo tratado junto ao selo original e detentor dos direitos de edição, podendo resultar também em uma tiragem nacional, que tornará finalmente o disco "Geração Bendita" acessível aos comuns dos mortais

Monday, October 24, 2005

BIG BROTHER IS WATHCING YOU

Informação codificada em impressoras
Uma organização privada de defesa dos direitos civis nos Estados Unidos denunciou a existência de impressoras laser a cores que escondem informação codificada capaz de localizar qualquer pessoa.
Parece um típico caso da teoria da conspiração, mas uma associação de defesa dos direitos civis garante que as impressoras laser a cores existentes no mercado contêm informação camuflada.Os documentos impressos são aparentemente anónimos; o que não se sabia é que estes podem esconder um código secreto da impressora que os produziu. Esta informação foi denunciada recentemente pela Electronic Frontier Foundation (EFF), que assegurou tratar-se de um sistema usado essencialmente para localizar dissidentes políticos.
No ano passado, a revista PC World (ver artigo original) já tinha abordado este assunto ao noticiar que os documentos de algumas impressoras a cores existentes no mercado deixavam pequenos pontos amarelos ao fundo das páginas, apenas visíveis com uma lupa. O referido artigo chegou a citar um especialista da Xerox que confirmou a existência das marcas com informação codificada, útil para as autoridades policiais dos Estados Unidos localizarem criminosos.
De acordo com a denúncia da EFE, o código secreto contém um número de série, assim como a data e a hora em que o documento foi impresso. Um dos fabricantes visados é a Xerox (modelo DocuColor), mas também poderão estar implicados nesta prática a Hewlett-Packard, Canon, Epson e Lexmark.
Fonte Ciberia

Thursday, October 20, 2005

A MÁQUINA DO TEMPO

Nos últimos anos da sua vida, o poeta irlandês Yeats sentiu-se sem inspiração. Foi na memória que a reencontrou. No poema Circus Animal's Desertion começa por notar como a falta de inspiração o leva a confrontar-se com a sua vida

Procurei um tema e procurei em vão / Procurei diariamente, seis semanas ou algo assim / Talvez, agora, sendo apenas um homem desgasta-do / Tenha de estar satisfeito com o meu coração, / Embora Inverno e Verão até à velhice se tenham iniciado / / Os meus animais de circo estavam todos em exposição / (…) Que posso fazer senão enumerar velhos temas.

Só que Yeats compõe a partir destes velhos temas um retrato original da sua vida. Não sei é se Yeats está a revisitar a sua vida ou a basear-se nela para construir uma nova. É por isso que o regresso de que fala no fim também aparece como um novo princípio

Aquelas imagens de mestre porque completas / Cresceram numa mente pura, mas de onde vieram? / /Um monte de lixo, o varrer das valetas / Velhas chaleiras, velhas garrafas, e as latas que se partiram, / Velhas pedras, velhos ossos, velhos trapos, a velha / Que mantém a contabilidade / Agora que a minha escada se foi /Tenho de me deitar onde todas as escadas principiam/ No ferro velho do coração.

Yeats não se repetiu. Inspirou- -se na memória. Numa altura em que assistimos a tantas repetições talvez seja bom lembrar que a memória não tem que ser sinal de repetição mas de um novo conhecimento. A memória é o que transporta o passado até ao presente. Ao fazê-lo, no entanto, deixa espaço à interpretação. Esta é moldada pelo tempo e a dúvida é saber se o tempo apura a memória ou, ao contrário, a engana.

Parece que o nosso cérebro organiza dois tipos diferentes de memória a memória de curto prazo (ligada aos aspectos sensoriais: som, olhar, cheiro, tacto) e uma memória de longo prazo. Qual estará mais próxima da verdade? Será que conhecemos verdadeiramente alguém ou alguma coisa quando estamos na sua presença ou quando damos tempo à nossa memória para seleccionar o que essa pessoa ou facto têm realmente de importante. Será que a distância temporal nos torna mais objectivos ou, simplesmente, mais selectivos?

Tendemos a ver a memória como o registo da nossa vida. Mas a memória não é um processo de gravação mas sim de edição. É que a memória é finita e, logo, temos de seleccionar o que merece fazer parte des- sa memória. Editamos o nosso passado para construir a nossa memória das coisas e das pessoas. Por vezes, exacerbamos o que elas tiveram de negativo, outras vezes exaltamos o que tiveram de positivo. Só que não sabemos se devemos acreditar na nossa nova história ou na história que nos lembra a memória da nossa memória. Há até quem mude de memória consoante muda de história. É nossa, no entanto, a responsabilidade do que cabe na nossa memória. É por isso que não se podem justificar certas falhas de memória com os limites da memória "Esqueceste-te do nosso aniversário!" "Desculpa, querida, mas já não tinha memória disponível…"

A verdade é que uma boa memória não é uma grande memória (que se lembra de muita coisa) mas sim uma memória crítica. Mais relevante que a informação que nos transmite a memória é a curiosidade que ela pode promover. Nada tem mais memória ou informação que um computador mas, não diremos que um computador é culto ou faz bom uso da memória. O conhecimento não se esgota na memória. Ao contrário, a memória deve ser um incentivo ao conhecimento. Mais do que como uma base de dados, devemos conceber a memória como um instrumento de juízo crítico e fonte de inspiração. A razão não nos permite controlar a memória mas permite-nos discutir com ela. Emoção e razão de novo juntas… Como diz Kaufman (o argumentista de um filme-chave sobre a memória The Eternal Sunshine of the Spotless Mind) "A história é sobre emoções e sobre a memória e ambas estão no cérebro. Se a centrasse no coração, seria apenas sobre bombear sangue."

É por isso que não concebo memória mais importante que a memória emocional. Neste caso, o que conta não é tanto se a memória reproduz uma verdade histórica, mas sim a inspiração que pode resultar dessa memória. É assim com a memória da mulher que se ama não é visual mas emocional. A emoção que me transmite a sua memória revela-me a sua beleza mas não me permite descrevê-la. Será esta memória verdadeira? Pouco importa, o que é importante é que ela mereça essa memória. Há memórias assim, em que o que nos fica gravado é a emoção que algo nos provocou. Só que a memória também nos provoca novas emoções: a tristeza é a memória dos maus momentos; a melancolia é a forma como a memória se recorda dos momentos felizes.

Hoje, no entanto, as pessoas parecem menos preocupadas com a sua memória do que com a memória com que os outros ficam delas. Os diários e as autobiografias têm, frequentemente, pouco de memória e muito de tentativa de implantação de uma certa memória nos outros. E o que será pior ser uma má memória ou não fazer parte da sua memória? Também se diz que há pessoas sem memória: é o caso dos chefes que nos despedem ou das mulheres que nos deixam! Claro que a razão, frequentemente, é outra: é que elas não partilham das nossas memórias…

Hoje em dia, até a memória parece ser a prazo. Recentemente, ouvi na rádio que a qualidades das novas formas de impressão das fotografias digitais é muito superior à anterior mas que apenas durarão cem anos. Aparentemente isto é comum a outros meios de gravação actuais. Já pensaram bem daqui a cem anos não existirá memória de nós. É verdade que há muitas coisas que se passam hoje das quais, provavelmente, preferíamos que não restasse memória, mas o que me preocupa não é tanto preservar a nossa memória mas assegurar o futuro dos outros: é que sem memória podem bem vir a repetir os nossos erros. Um povo que não faz bom uso da memória fica preso à sua história. Pensando bem, temo que hoje já seja comum repetirmo-nos sem memória. Portugal parece estar sempre a repetir o mesmo filme com actores diferentes. Falamos tanto da nossa memória colectiva, mas parece que não aprendemos nada com ela. O problema da memória colectiva é que se já é difícil aprender com a nossa memória (quantas vezes repetimos os mesmos erros), ainda é mais difícil aprender com a memória dos outros (de pouco serve conhecermos os seus erros). Daí que sejamos herdeiros de uma história mas não tenhamos memória.

Será que alguém se lembra de quando perdemos a memória?

Wednesday, October 12, 2005

25 ANOS SOBRE O "BOOM" DO ROCK PORTUGUES

Quase 25 anos depois do "Boom" já podemos analizar friamente a importancia historica do fenomeno iniciado por "Chico Fininho"; "cavalos de corrida" "perfume Patchouly"; "Chiclete";"propaganda"; "vem daí"; "malta á porta"ou "Ribeira".
O que aconteceu foi que os grupos como UHF e Já Fumega só em 80/81 descobriram a receita simples e directa para atingir o público (refrões com frases forte e sonoras - olhó robô;vejo malta à porta; vem daí; destruição;totobola... - que ficaram no ouvido e rifs de guitarra breves, com algum ska à mistura) memoria que antes não tinham logrado atingir a cantar em ingles ou com musicas como "Jorge Morreu" ou "here you are".
Acontecia algum extraordinário é que antes de 1980 as musicas eram muito elaboradas, embora extremamente bem tocadas, não tinham sentido prático.(A peça "Cosmunicação" dos Beatnicks tinha 45 minutos e a Lena d´agua dava gritos estridentes - nunca foi editada)
Era complicação demais para o publico em geral e para os Top´s.
Vejam-se os exemplos das musicas dos Tantra,Petrus Castrus, Banda do casaco e Salada de Frutas.
Como exemplo disto temos boas musicas que falharam os tops antes do boom.
Em 1971 os Albatroz com "Julio é um Duro" em 1979 os Corpo Diplomatico (ante camara dos Herois do Mar) com "Festa" e "Férias" e o album Musica Moderna, foram um rotundo falhanço.
As editoras como Vadeca, Rossil, RT, Imavox, Gira, Polydor etc.iniciaram o filão em 80-81,para o cortarem o filão um ano depois.
A moda de cantar em Português e as vendas em barda foi-se esgotando em 1983, só sobreviveram os do costume (Pedro Aires de Magalhães(Tantra, Herois do Mar, Né Ladeiras e os GNR (album do António Variações) estavam em todas.
Por exemplo o muito aguardado 2ºsingle dos "Historia Linda- Grupo do Baile" depois do mega sucesso "Patchouly" foi um flop, ou os albuns dos IODO, CTT, Beatnicks passarem despercebidos.
Os UHF desapareceram durante uns tempos sendo certo que o single"um mau rapaz" já não chegou aos tops.
Os albuns de grupos como TNT, NZZN, que tinham tido tanto sucesso em single foram pura e simplesmente arrasados pela critica, nomeadamente o Luis Filipe Barros para já não falar no M.E.C. que considerava não inexistir Rock Português (teorias).
Desta autentica revolução ficamos com 1 "nucleo Duro" constituido por Herois dos Mar (mais tarde atingiram a perfeição com Madredeus); G.N.R., Radio Macau, A. Emiliano, Telectu, UHF, Né Ladeiras, Lena DÁgua, Rão Kyao...Julio Pereira, e não mais a musica Portuguesa ficou no esquecimento.
Impunha-se a edição de um livro para fazer o balanço do BOOM e uma enciclopedia com todos os grupos, mas infelizmente nem a musica podemos ouvir porque não está editada em CD e os vinis são raros.
Veja-se no entanto a honrosa excepção que a edição dos 25 singles dos Xutos, do qual se destaca "Semen" "Papá deixa lá" "Remar-Remar" e o "O homem do leme", bem como "7º Single".
As editoras, especialmente a EMI - Valentim de Carvalho deviam seguir este exemplo.

Tuesday, October 11, 2005

SOM DA FRENTE - ONDE ESTÁ O A. SERGIO ?



Som da Frente-
Quando dos fabulosos dias da rádio em Portugal no pós-25 de Abril, houve um nome que se destacou na área musical: António Sérgio.
Surgido em 1982, o «Som da Frente» era mais do que um programa. Nas tardes ou nas madrugadas, o mítico espaço radiofónico viveu dez anos no éter a divulgar o que de melhor se fazia na música.

Para celebrar os vinte anos da primeira edição foi editado um duplo álbum com alguns desses momentos mágicos, nomeadamente os protagonizados por artistas como os Cramp, Talking Heads, Gang of Four, Teardrop Explodes, The Sound e Joy Division.

Poucas coisas são piores do que perder a memória do tempo. Ainda bem que alguns milhares de portugueses concordam e permitiram a entrada de «Som da Frente 1982-86» no Top 10 nacional na semana passada.

Actualmente na best rock fm" (98.1) à noite de 6º Feira, na rubrica "a hora do
lobo" ( começa ás 24h acho) C/António Sérgio e Ana Cristina Ferrãomantém o cunho alternativo e pioneiro de novas vagas musicais...É O VERDADEIRO GURU sendo o unico "ALTERNATIVO" em Portugal.
Aqui fica o alinhamento:
António Sérgio marca o início de cada dia com a divulgação do som e pensar alternativos. O "mestre" convida-te a entrar na toca entre a meia noite e as duas da madrugada, de Terça a Sábado, na Hora do Lobo.
Debaixo da língua
(de 3ª a 6ª feira, logo após a 01h00 da manhã)
Um espaço dedicado à “spoken word”, à palavra falada, às curiosidades do rock e não só.
Downtown
(de 3ª a 6ª feira, à 01h45)
Aqui dá-se dar lugar a sons não habituais no cenário alternativo da Hora do Lobo e que se tronou num desafio ao próprio programa tendo como objectivo conseguir romper com espartilhos estílisticos.
Santuário
(5ª feira, à 01h25)
Lema da rubrica: "Santuário, onde a Hora do Lobo guarda o que não quer esquecer": A esta hora e nesta madrugada lembra-se um álbum marcante de qualquer época através da passagem de 3 ou 4 temas.
CONTACTO:
horadolobo@bestrock.clix.pt

Monday, October 10, 2005

NO RASTO DE...fundação atlantica


A "fábrica portuguesa"

Todos conhecem a história da mítica editora inglesa Factory, contada
várias vezes e até registada no altamente ficcionado filme de Michael
Winterbottom, "24 Hour Party People"." "O que muitos ignoram é que
Portugal também teve a sua "Factory" – a "Fundação Atlântica (FA)",
fundada em 1983 por Miguel Esteves Cardoso, Pedro Ayres Magalhães e
Ricardo Camacho. A "FA" durou até 1985 e produzia e prensava discos
que eram distribuídos pela "Valentim de Carvalho".

Miguel Esteves Cardoso era jornalista e tinha estudado em Oxford. Foi
correspondente de publicações portuguesas em Manchester, onde acompanhou
a evolução da Factory e criou uma extensa rede de contactos. PEdro Ayres
Magalhães era membro dos Heróis do Mar e estudante de Psicologia. Ambos
eram amigos de infância. Ricardo Camacho era médico, músico e produtor.
Trabalhou com Miguel Esteves Cardoso pela primeira vez num "single" de
Manuela Moura Guedes. Foi após este lançamento que as três figuras
centrais da "FA" começaram a pensar em fazer algo pela música do seu
país, e foi assim que a editora nasceu.

Segundo Ricardo Camacho, a "FA" funcionava anarquicamente: "na altura
éramos pessoas com muitas ideias e sem sentido prático. Poderíamos ter
tornado a história da música portuguesa diferente se tivéssemos
conseguido sobreviver mais dois ou três anos. A "FA" desapareceu numa
altura em que os seus grupos atingiram vendas que lhe teriam permitido
subsistir mais tempo e também avançar com outros projectos que nunca
chegaram a realizar-se."

Dentro da editora, Camacho dirigia a produção, Magalhães o reportório e
Cardoso era o Director-geral da companhia, enquanto outros tratavam da
gestão comercial, da questão jurídica, da imagem, das actividades de
promoção e informação e das actividades externas de divulgação: "o
Miguel tratava dos contactos com Inglaterra. Eu e o Pedro trabalhávamos
em estúdio. E discutíamos muito, tínhamos muitas ideias, nem todas eram
convergentes. Mas era giro."


"Na Fundação da FA: Os Nossos Primeiros Propósitos", primeiro
comunicado público da editora, foi escrito por Miguel Esteves Cardoso em
1983. O documento expunha as ideias da Fundação. Esta pretendia fazer
com que a exportação excedesse a importação e contribuir para aumentar a
quantidade de produção nacional no estrangeiro. Usando pouco dinheiro,
pretendia cortar com todas as despesas extra e canalizar todos os meios
para a produção. Utilizou uma "estética da pobreza", ou seja, procurava
qualidade sem gastar dinheiro. Nunca houve dinheiro próprio da editora,
pelo que as despesas eram suportadas pela "Valentim de Carvalho".
Ricardo Camacho explica: "Agora gravo coisas em casa, antigamente
tínhamos que ir para estúdio gastar dinheiro. Por isso, ao fazermos um
único disco, estávamos endividados durante muito tempo. Foi isso que
rebentou com a "FA" Hoje teria sido diferente."

Tanto Ricardo Camacho como Miguel Esteves Cardoso falam das pessoas da
"FA" como jovens inexperientes. Camacho diz que um dos factores que
levou ao fracasso da editora foi a existência de gente com
personalidades muito fortes dentro da mesma. "Não existia uma liderança.
Por exemplo, na "Factory" havia uma personalidade muito forte, o Tony
Wilson, como nas outras editoras independentes. Toda a gente queria
fazer o que lhe apetecesse. Isto não é viável numa editora sem meios."


Os discos nacionais da "FA", na sua maioria "singles", eram de
artistas como "Sétima Legião", "Delfins" ou "Xutos & Pontapés". A
Fundação lançou também discos estrangeiros, quase todos licenciamentos
de editoras inglesas. Entre os artistas estrangeiros da editora,
encontravam-se nomes como "The Raincoats" ou "Young Marble Giants".

Os objectivos que a "FA" propunha cumprir eram difíceis. A editora
acabou por fracassar economicamente. Ricardo Camacho explica: "Tivemos a
ideia de transpor para Portugal a experiência inglesa das editoras
independentes. Era um fenómeno desconhecido em Portugal, que o Miguel
tinha trazido de Inglaterra. Não o fizemos da melhor maneira, e como
pioneiros cometemos todos os erros que os que vieram depois puderam
evitar. Erros de relacionamento e avaliação do mercado e de distribuição."


A Fundação não chegou a ter sucesso, existindo com dívidas e fracassos.
Para Camacho, a FA "podia ter dado uma verdadeira editora,
verdadeiramente independente, e com capacidade económica para prosseguir
um projecto próprio. Dispersámo-nos por coisas sem lógica que não
encaixavam naquilo que devíamos estar a fazer. Gastámos imenso dinheiro
num projecto que nunca viu a luz do dia, que inclusivamente o PEDRO
AYRES MAGALHÃES foi gravar a Manchester. Pessoalmente, gostaria de ter
concentrado as atenções da "FA" na "Sétima Legião", nos "Xutos", e
naquilo que viriam a ser os "Madredeus"."



Curiosamente, a história da "FA", que tudo teve a ver com a da
"Factory", acabou até por se cruzar com a história da editora britânica.

Miguel Esteves Cardoso convidou uma das bandas do catálogo da "Factory"
para gravar em Portugal: os "Durutti Column", projecto do guitarrista
Vini Reilly, que vieram gravar um "single". Acabaram por gravar um disco
inteiro, "Amigos em Portugal". Ricardo Camacho conta que "Reilly estava
habituado a gravar com poucos meios, chegou cá e viu equiPedro Ayres
Magalhãesento como nunca tinha visto. O Tony nunca lhe tinha pago um
estúdio. Foi assim que conseguiu experimentar coisas novas e criar
aquele som."

A história não acaba aqui. Havia um acordo entre a "Factory" e Vini
Reilly que fazia com que a editora desse ao artista 50% das vendas
totais, descontando os gastos com tempo de estúdio. Não se sabia se este
acordo era válido para todo o mundo. A lei portuguesa especificava que
apenas se podia dar menos de 20% das vendas. Os ingleses acabaram por
ficar extremamente desiludidos por causa do dinheiro.

Esta é a versão portuguesa da história. Tanto Wilson como Reilly contam
outra versão. Wilson, na reedição de "Another Setting", um dos discos
dos "Durutti Column", escreve, a seguir a uma contextualização histórica
dos defeitos dos portugueses: "Amigos em Portugal. Amigos em Portugal?
Uma vez queixei-me à minha primeira mulher que o álbum tinha posto a
empresa do Miguel e dos amigos a andar, e mesmo assim quando o Vini
tocou em Lisboa seis meses depois nem um deles apareceu no concerto.
Porque é que haviam de ter aparecido? Honra, gratidão, dívida. Que
estupidez, eles são portugueses, não têm tais conceitos mundanos."

Tanto Miguel Esteves Cardoso como Ricardo Camacho se apressam a refutar
isto. Cardoso explica que foi a todos os concertos que Vini Reilly deu
em Portugal, enquanto Camacho explica que os "Durutti Column" chegaram
mesmo a tocar com equipamento da "Sétima Legião".

Tanto Tony Wilson como Vini Reilly julgam que "Amigos em Portugal" deu
muito dinheiro à "F.A". e fez da editora um sucesso, quando, na verdade,
nada disto parece ter acontecido.
Hoje em dia é muito difícil encontrar os discos que a "FA" lançou
entre 1983 e 1985. A última edição da editora saiu com o selo da editora
mas pela "EMI-Valentim de Carvalho". Era um "single" de Pedro Ayres
Magalhães, "O Ocidente Infernal"Adeus Torre de Belém". Foi este o adeus
de uma editora que ambicionou fazer algo pela música do seu país como
nunca havia sido feito, e como nunca se chegou a fazer.

Rodrigo Nogueira - publicado originalmente n'Os Fazedores de Letras
número 62 de 2005, adaptado

Já agora, a lista completa dos lançamentos da FA:
06"1983 - 2x7" - 1651873 - CLUBE NAVAL - Professor Xavier " Salva-Vidas
07"1983 - 7" - 1651897 - SÉTIMA LEGIÃO - Glória " A Partida
10"1983 - LP"MC - 1652071"4 - DURUTTI COLUMN - Amigos em Portugal
11"1983 - 7" - 1654577 - ANAMAR - Baile Final " Lágrimas
02"1984 - 7" - 2000527 - LUÍS MADUREIRA - O Teu Amor Sou Eu (Solo) " (Dueto)
05"1984 - 12" - 2001846 - QUANDO QUANGO - Love Tempo " (Mix) -
licenciamento Factory
06"1984 - 12" - 2002126 - THE WAKE - Talk About the Past " Everybody
Works So Hard - licenciamento Factory
06"1984 - 7""12" - 2002697"6 - DELFINS - O Vento Mudou " Letras
06"1984 - LP - 2401721 - THE RAINCOATS - Moving - licenciamento Rough Trade
07"1984 - LP - 2401811 - SÉTIMA LEGIÃO - A um Deus Desconhecido
07"1984 - LP - 2601701 - YOUNG MARBLE GIANTS, THE GIST, WEEKEND - Nipped
in the Bud - Licenciamento Rough Trade
09"1984 - 7" - 2002387 - XUTOS & PONTAPÉS - Remar Remar " Longa Se Torna
a Espera
01"1985 - LP - 2402681 - VIRGINIA ASTLEY - From Gardens Where We Feel
Secure - licenciamento Rough Trade
03"1985 - 7" - 2005607 - DELFINS - A Casa da Praia (Vocal) " (Mistura de
Areia)
09"1985 - 12" - 1775686 - Pedro Ayres Magalhães - O Ocidente Infernal "
Adeus Torre de Belém - lançamento EMI c

J Peel e A .Sergio-o que tem em comum ?

Adam & The Ants, Associates, Syd Barrett, Billy Bragg, Tim Buckley, Can, The Chameleons, The Cure, Gang of Four, The Go-Betweens, Peter Hammill, Happy Mondays, The Jam, The Jesus & Mary Chain, Joy Division, New Order, Nico, Siouxsie and the Banshees, T-Rex, Robert Wyatt e muitos outros têm um álbum com um nome idêntico. E não é Best Of ou Greatest Hits (haja Deus). Esses discos chamam-se todos Peel Sessions.

John Peel (1939-2004) foi um célebre radialista. Na BBC Radio 1 desde 1967, divulgou imensos artistas e géneros musicais ao longo de várias décadas. A sua preferência pelas guitarras em geral e pelo punk em especial é demonstrável, mas, como lembrou o Guardian no obituário, o gosto de Peel incluía também "New York hip-hop, Chicago house, Detroit techno, Pakistani qawaali, Congolese sou- kous, ambient electronica, death metal and alternative coun- try music". Os White Stripes foram uma das suas últimas apostas.

A centralidade de John Peel no campo da música popular urbana deve-se em grande medida a uma lei que estipulava que os programas da BBC deviam passar uns tantos temas gravados expressamente nos estúdios da estação. Essa aparente restrição serviu às mil maravilhas os propósitos de Peel, que convidou centenas e centenas de bandas para as ditas peel sessions, nas quais tocavam versões alternativas das suas canções, muitas das quais apareceram depois em disco. Eis como uma lei proteccionista se torna criativa.

O nosso John Peel tem sido António Sérgio. A comparação, não é exacta, mas faz sentido é impossível ignorarmos o papel desempenhado por Sérgio nas rádios pelas quais passou. Ele foi sempre o DJ atento e rebelde que não se acomoda a playlists conformistas e dá a conhecer algumas bandas obscuras que mais tarde se tornam canónicas. Ou outras que continuam minoritárias mas são decisivas para quem as ouviu pela primeira vez, noite dentro, na voz cavernosa do homem com nome de ensaísta. Uma antologia destas escolhas está em António Sérgio Apresenta Som da Frente 1982/1993, compilação em 2 CD com alguns artistas esquecidos e outros óbvios (mas não banais) dessa excelente década.
in DN hoje

Tuesday, October 04, 2005

Memorias da musica rock em Portugal- Beatnicks


BEATNICKS
Os Beatnicks , um dos grupos importantes do Pop/Rock nacional, passaram pelas décadas de 60, 70 e 80.
Com diferentes formações e diferentes estilos de música, os Beatnicks começaram em 1965 como um projecto incipiente.
A sua primeira formação incluía João Ribeiro e Manuel Paulo, que apenas efectuaram alguns espectáculos, sem grande capacidade de surpreender.
A Segunda fase dos Beatnicks começa em 1971, com Ribeiro, Rui Pipas (precocemente falecido num acidente de viação), Mário Ceia ( que , mais tarde pertenceria a uma formação dos Hosanna) e José Diogo.
O grupo elege o inglês como língua das suas canções. Tocam no Festival de Vilar de Mouros e em Vigo (Espanha). Gravam um EP "Christine Goes To Town" ( incluído ,recentemente, na colectânea editada em CD " Biografia do Pop/Rock"), que é complementado com " Little School Baby" e "Sing it Along".
Nesta fase, o grupo está próximo de uma corrente hard Rock.
Ramiro ( que tinha entrado no grupo algum tempo antes em substituição de Pipas) reforma o grupo ( que esteve parado por problemas relacionados com o serviço militar), já depois do 25 de Abril. Entram Jorge Casanova e uma jovem actriz, filha do futebolista José Águas . Esta última era Helena Águas ( mais tarde conhecida por Lena D'Água). O grupo tinha 2 vocalistas e actuava , sobretudo, em Festas de Finalistas, com incidência no distrito de Castelo Branco.
A partir de 1976 a banda envereda por um estilo "progressivo" , muito próximo de uns Yes , Genisis, ou ; em Portugal, Tantra.
Jorge Casanova começa a compor temas como "Cosmonicação", "Somos o Mar" e os espectáculos do grupo incluem projecção de slides e fumos carbónicos, uma novidade total em Portugal, só vista no concerto que os Genisis deram em 1975, no Pavilhão de Cascais.
A banda actua em vários festivais ao lado de Tantra, Hosanna, Psico, Arte & Ofício e WaveBand . Este último grupo constituído por músicos alemães que se radicam em Portugal, tem a participação de membros dos Beatnicks como músicos convidados. São inúmeros os espectáculos que os dois grupos fazem em conjunto.
Os Beatnicks gravam , finalmente, um single com "Somos o Mar" e "Jardim Terra", durante a fase "progressiva".
Em 1978 , Lena abandona o grupo e este entra em colapso. Ramiro lança-se num projecto efémero chamado Doyo , que grava um dos piores discos da fase do "boom" do Rock português, em 1981.
Os Beatnicks , com Ramiro, ainda regressarão para gravar um single " Blue Jeans" e "Magia", precisamente na avalanche de bandas de Rock, com o qual não conseguirão nenhum sucesso ( e que não traz nada de novo em relação a outras bandas). Completamente desactualizados e com o público interessado em Rui Veloso, GNR e UHF, os Beatnicks acabam por morrer de morte natural.

Monday, October 03, 2005

FISCO NÃO É BRUXO !! MAS AS BRUXAS DÃO A VOLTA AO FISCO

Fait-divers
Um bruxa holandesa conseguiu obter deduções na compra de vassouras e lições de feitiçaria, avança o jornal De Telegraaf. As autoridades fiscais locais autorizaram a mulher a declarar as despesas gerais da sua profissão para efeitos de impostos.
A bruxa conseguiu recorrer da decisão de um tribunal de Leeuarden, segundo a qual, as despesas da bruxaria não poderiam ser deduzidas nos impostos.
Entre os custos em causa está o curso de feitiçaria numa escola de Appelscha, cerca de 2200 euros. Do programa de estudos constam aulas de bruxedos, preparação de poções mágicas e cura com pedras.
Fonte - D.D.