Thursday, June 29, 2006
CHAMEM A POLICIA AU AU AU QUE EU NÃO PAGO
Seis polícias multados por viajar sem bilhete
Seis elementos da Polícia Judiciária (PJ) foram multados, ontem, por um fiscal dos Serviços Municipalizados de Transportes Urbanos de Coimbra (SMTUC), por insistirem em circular num autocarro sem pagar bilhete. Pelo mesmo motivo, uma funcionária da PJ foi agredida, anteontem à noite, por passageiros furiosos com a paragem forçada do autocarro face à instransigência da mulher em adquirir o título. Para acabar com a polémica, a Administração dos SMTUC ordenou, ontem, a suspensão da obrigatoriedade de pagamento de bilhete, por uma semana, a todos os funcionários do Ministério da Justiça (MJ).
"O MJ deve um milhão e meio de euros aos SMTUC e não paga. Os funcionários não têm culpa, mas alguma coisa tinha de ser feita", explicou, ao JN, o presidente da Câmara de Coimbra, Carlos Encarnação, para justificar a suspensão das viagens à borla a quem apenas bastava exibir o cartão de funcionário público.
Mas a ordem de pagar bilhete até que o MJ pague a dívida aos SMTUC durou pouco tempo. Começou a vigorar (para alguns) na segunda-feira passada e acabou ontem. Portanto, 24 horas depois.
Carlos Encarnação diz que não quer fazer dos polícias "bombos da festa", embora ache "indecoroso" querer usar autocarros sem que o serviço seja pago. Para evitar mais "guerras" e como "sinal de boa vontade", a Câmara vai deixar que os funcionários do MJ usem os SMTUC à borla até ao dia da reunião que vai acontecer, na próxima semana, com responsáveis do referido Ministério. "E, depois, logo se vê!", avisa o autarca, dando a entender que se o milhão e meio de euros não for pago, a ordem de proibição volta a vigorar.
Os seis elementos da PJ que ontem foram multados (52 euros/cada) garantem não pagar a coima, por considerarem "ilegal" a "decisão unilateral" dos SMTUC. "A lei está do nosso lado. Não foi revogada. E não é uma empresa que tem legitimidade para mudar a lei", afirmou, ao JN, José Morais, da associação sindical da Judiciária e um dos que, ontem, foi autuado por um fiscal dos autocarros municipais.
Albertina Cardoso, da PJ, que foi agredida em pleno autocarro, condena a atitude dos SMTUC e, para além de ter já apresentado queixa contra os seus agressores, promete fazer o mesmo contra a empresa municipal.
Tuesday, June 27, 2006
AS ROCKOLAGENS DA NOSSA MEMORIA
lEMBRO-ME que por alturas do final de 1981/82 havia uma mania de fazer textos onde entrassem palavras com grupos ou nomes de musicas do Boom do Rock Portugues.
A minha Rockolagem desapareceu na memoria dos tempos mas ainda cheguei a vender fotocopias da mesma a 2$50.
Tinha referencias aos Pizo-Liso, Já Fumega, Vodka Laranja, Machos Latinos (Frodo)enfim gostava muito de encontrar uma cópia perdida disso pois já não me lembro do resto.
No entanto, não sabia porque é que tinha feito isso nos anos 80 até que li a historia do J. Moutinho em http://www.poemar.com/MEMORIAS%20DO%20ROCK%20PORTUGUES.htm#A%20história%20desconhecida%20das%20Memórias
AFINAL A EUFORIA DAS ROCKOLAGENS FORA DESPOLETADA PELO SINGLE DA GIRA (QUE VENDEU NADA MAIS NADA MENOS QUE 15 MIL COPIAS)
AQUI VAI A HISTORIA CONTADA NA 1ª PESSOA.
A história do meu single incluído nas "Memórias" é muito original pelo que não me eximo de puxar pela memória e tentar contá-la em toda a sua extensão.
Depois de 17 anos de "música de baile" resolvi encostar às "bocks", parar com aquela loucura de andar de amplificadores às costas por este país inteiro, cantar horas e horas a fio, a troco de uns míseros escudos que, muitas vezes, nem davam para pagar os aparelhos necessários para uma "razoável" prestação musical. A minha última prestação a nível de vocalista de grupo de baile terminou na Passagem do Ano de 1980 para 1981. Curiosamente a minha banda tinha sido contratada pelo Partido Comunista Português para actuarmos no Pavilhão da Académica da Amadora. Como o Pavilhão era enorme, a nossa humilde aparelhagem não teria capacidade para encher de som o enorme pavilhão. Então o PCP pediu emprestado o P.A. (Public Adress System) ao Luis Cília.
A minha modesta aparelhagem de vozes serviu nesse dia de munição para o nosso baterista. Enfim um luxo enorme naqueles tempos. Eu tive pela primeira vez ao longo daqueles 17 anos a possibilidade de me ouvir através de monitores que estavam virados para mim. Senti-me nas nuvens. Nunca me tinha ouvido tão bem. Os meus próprios colegas de banda estavam espantados com a prestação que fiz naquela noite, eles que diziam que a minha voz estava gasta e não tinha mais hipóteses como vocalista. Ao fim de 10 horas seguidas de canções, de muito rock, de muita marcha brasileira de carnaval, estava muito satisfeito. Afinal não era eu que estava mal, era a aparelhagem que não tinha condições.
A resolução tinha sido tomada antes desta última experiência e troquei a minha aparelhagem de vozes, uma HH razoável de 200 watts, por um carro NSU Prinz, e julguei ter terminado aí a minha aventura musical. Puro engano.
Em alguns dos nossos últimos ensaios resolvemos experimentar algumas músicas originais com poemas em português de minha autoria, motivados pelo programa do Luís Filipe Barros, o Rock em Stock, que passava na Rádio Comercial. Gravámos num pequeno gravador de trazer por casa umas quantas canções. Recordo-me que uma delas chegou a passar no programa mas por aí se ficou a aventura.
Um dia de manhã muito cedo para mim, 7h sou acordado pela minha esposa que me disse assim: "João tens a mania que escreves ouve o programa que está a passar". Acordei meio estremunhado e fui ouvir o programa das 7 às 10 do Luís Pereira de Sousa que pedia muito afincadamente aos ouvintes uma versão em Português, cujos direitos reverteriam para oferecer à UNICEF, duma canção dos ENGLISH BOYS que versava o tema dos diminuídos físicos.
Estavam a passar o original cantado. Peguei no gravador e gravei a versão original. Escrevi, entretanto uma letra sobre o tema. Uma ideia louca veio-me à cabeça na altura: Se estes "gajos" passassem apenas o instrumental, talvez eu conseguisse fazer uma gravação caseira já em português. Telefonei à Rádio e satisfizeram esse pedido. O promotor da Editora Gira, tinha com ele a bobine do instrumental e passaram. Eu gravei o instrumental e, com um daqueles gravadores que têm micros incorporados, coloquei o instrumental a passar na minha aparelhagem caseira e cantei para o gravador a versão portuguesa.
Não me desgostou o resultado e disse à Graça, minha mulher, vou à Rádio Comercial mostrar isto. Resposta: "Tu és mesmo doido". Cheguei à RC às 9h30m. Disse ao que ía. Deixaram-me entrar e o promotor da Editora perguntou o que eu queria. Disse-lhe: Tenho aqui uma versão da canção que pedem já em português e cantada. Ele disse: "Mas o concurso é apenas de letras". Eu respondi: Na gravação está a letra se interessar, ok!.
O Promotor foi falar com o Luís Pereira de Sousa o radialista e contou a história. A música passou ainda nesse dia. O concurso morreu por ali. O ANDA DAÍ que eu tinha escrito em cima da música dos ENGLISH BOYS, na opinião deles, e como se diz actualmente "arrasou".
O Concurso que servia também de lançamento para a Editora Gira tinha como prémio a gravação de um single com a letra vencedora. Nunca se chegou a realizar, nem o concurso, nem a gravação.
Além da gravação do ANDA DAÍ eu tinha levado comigo uma cassete com as gravações de garagem da minha antiga banda, onde se encontravam a ROCKOLAGEM e A PASTILHA. O promotor da editora, curioso, perguntou-me se eu tinha mais alguma coisa e mostrei-lhe a cassete. Foi ouvida logo ali na Rádio Comercial.
Pouco tempo depois quiseram que eu gravasse não o ANDA DAÍ mas a ROCKOLAGEM e A PASTILHA. Fiquei meio atrapalhado, porque já não tinha banda mas, fui falar com eles e aceitaram ir para estúdio fazer as duas canções. Era o "Boom" do Rock Português que este livro relata bem "MEMÓRIAS DO ROCK PORTUGUÊS".
Para os músicos de baile, a hipótese de gravar um disco era alguma coisa impensável naqueles anos. Fomos para estúdio sem produtor, coisa rara naquela altura. Era mais ou menos o "salve-se quem puder" o "mostra o que vales". Deram-nos dois dias de estúdio.
Nunca mais me esquece, o meu amigo MORENO PINTO, um dos mais consagrados técnicos de som nacionais, viu ali aqueles 5 "putos" sem qualquer experiência de estúdio a tentar gravar 2 canções e sorria um sorriso muito terno, muito "pai". Não sei se simpatizou comigo. Conversámos um pouco e ele disse: Eh! Pá! isto está muito cru, precisa de uns truques! Eu disse-lhe: Amigo, estamos nas suas mãos, não temos experiência e, como vê não está ninguém da Editora, ajude-nos como a sua consciência ditar.
Ajudou muito, rodou aqueles botões todos. Tentou, voltou a trás, experimentou de novo e, finalmente, foi ele que produziu e fez as misturas finais.
Estávamos na lua. Tínhamos na mão a hipótese de um disco. Arranjou-se até nome para a nova banda. Seria a "banda desenhada". Já não me recordo bem mas gerou-se a propósito nem sei de quê, uma discussão louca entre os músicos, e resolveram não seguir com o mini projecto. A banda desfez-se, mas as gravações estavam feitas.
No final do 2º dia, já nas misturas finais, aparece o promotor da Editora, muito atarefado a perguntar como as coisas tinham corrido. Posto ao par do que se tinha passado com a banda, ele perguntou-me se eu não me importava de dar apenas o meu nome. As canções eram minhas, musica e letra e disse que não me importava.
Resolvido isso o Promotor foi ter com o MORENO PINTO o técnico de som e simultaneamente produtor do disco e pediu-lhe se lhe podia dar uma bobine de promoção, porque ele tinha um programa na Rádio Renascença para começar a fazer a promoção do Disco.
O Moreno Pinto, velha matreira, deu-lhe uma cópia em Mono.
Foi a partir dessa cópia que a gira mandou prensar o single. A Gira nunca pagou o estúdio. O single saíu em mono. Enfim, o primeiro embuste da minha pobre carreira... mas isso é outra história.
Curiosamente, uma fita pirata deu origem a um single que fica na história do Rock Português. Estou orgulhoso.
Letra:
Mastigando uma chiclete
As damas chegam de maxi
Não estava lá a Rosete
E regressaram de táxi
Sobem a Rua do Carmo
Com o Frodo na garupa
A reboque do Robot
Vai a Salada de Fruta
O rock também e riso
Que faço com muito gozo
Mas não perco é o juízo
Por cauda do Rui Veloso
Trabalhadores do Comércio
É um puto e dois com vício
Um Rock com muitos Vários
Será que é Arte e Ofício?
O pagode anda guloso
Já Fumega na Ribeira
Desde o Fininho Veloso
À suicida Ferreira
O rock anda com febre
São os putos no recreio
O stock está mais alegre
Mas não vai nesse passeio
O rock também e riso
Que faço com muito gozo
Mas não perco é o juízo
Por cauda do Rui Veloso
O que vez oh! Espelho meu
Portugal na CEE
Oh! Meu o que é que te deu?
Oh! Pá eu Seilasié
Foram os berros do Barros
Que criaram as raízes
Cuidado que o Piso é Liso
Não se gastem as matrizes
O rock também e riso
Que faço com muito gozo
Mas não perco é o juízo
Por cauda do Rui Veloso
O rock anda com febre
São os putos no recreio
O stock está mais alegre
Mas não vai nesse passeio
A Moda dos bichos da seda
Lembro-me dos bichos-da-seda. Era o assalto às sapatarias em busca de uma caixa adequada ao milagre da criação em miniatura que nos dava para assistir, todos os anos, como uma moda que ninguém queria interromper.
Lagartas horríveis, cheias de patas, molengonas. Que depois teciam um casulo esbranquiçado, parecido com um pequeno ovo, acabando por eclodir sob a forma de uma espécie de borboletas desenxaibidas e sem piadinha nenhuma. Depois restavam as caixas de sapatos vazias, ou quase, com uma espécie de teias de aranha e os ovos vazios no fundo a fomentarem sem sucesso saudades dos bichos que desapareciam antes mesmo de lhes atribuirmos um nome qualquer. Pouco comunicadores. No fundo das caixas, restos de folhas secas. E essas é que me trazem os bichos-da-seda à memória.
Lembro-me de ser um dos muitos que forravam os finais de tarde nos comandos da Amadora muitos pais e muitas mães e imensas filhas e filhos e todos os nossos amigos atarefados na recolha do sustento para as lagartas da caixinha. Empoleirados nas árvores, os putos mais diligentes ou os pais mais persistentes, depois de um dia de trabalho, à procura da melhor folha para nutrir os seus exemplares de criaturinhas feiosas que a natureza tão bem sabe produzir.
Vaidade dos pais afoitos, com os putos orgulhosos da colheita exposta em tons de verde vivo sobre o fundo das caixas de sapatos sem a tampa com buracos para os bichos poderem respirar. Sorriso sereno nas bocas dos velhos que acorriam à zona de propósito para assistirem ao agitado ritual.
Bons tempos
Monday, June 26, 2006
HÁ MONTES DE TEMPO QUE ANDAVA ATRÁS DISCO - AMÁLIA RODRIGUES É R´N´R
Infelizmente para a musica Portuguesa, ambos já desapareceram.
Amália edita, em 1982, O Senhor Extraterrestre, um maxi-single em vinil amarelo com duas canções de Carlos Paião, uma autentica raridade.
Aqui vai a letra para recordar.
EDIÇÃO EM CD - NÃO EXISTE (A CAPA É FANTASTICA) É UMA BD.
...a letra...
Vou contar-vos um história
que não me sai da memória,
foi p?ra mim uma vitória
nesta era espacial.
Noutro dia estremeci
quando abri a porta e vi
um grandessíssimo ovni
pousado no meu quintal.
Fui logo bater à porta,
veio uma figura torta,
eu disse: se não se importa
poderia ir-se embora,
tenho esta roupa a secar
e ainda se vai sujar
se essa coisa aí ficar
a deitar fumo p?ra fora.
E o senhor extraterrestre
viu-se um pouco atrapalhado,
quis falar mas disse pi,
estava mal sintonizado.
Mexeu lá o botãozinho
e pôde contar-me então
que tinha sido multado
por o terem apanhado
sem carta de condução.
O senhor desculpe lá,
não quero passar por má,
pois você onde está
não me adianta nem me atraza.
O pior é que a vizinha
que parece que adivinha
quando vir que estou sozinha
com um estranho em minha casa.
Mas já que está aí de pé
venha tomar um café,
faz-me pena, pois você
nem tem cara de ser mau
e eu queria saber também
se na terra donde vem
não conhece lá ninguém
que me arranje bacalhau.
E o senhor extraterrestre
viu-se um pouco atrapalhado,
quis falar mas disse pi,
estava mal sintonizado.
Mexeu lá no botãozinho,
disse para me pôr a pau,
pois na terra donde vinha
nem há cheiro de sardinha
quanto mais de bacalhau.
Conte agora novidades:
É casado? Tem saudades?
Já tem filhos? De que idades?
Só um? A quem é que sai?
Tem retratos com certeza,
mostre lá? Ai que riqueza,
não é mesmo uma beleza,
tão verdinho? sai ao pai.
Já está de chaves na mão?
Vai voltar p?ro avião?
Espere, que já ali estão
umas sandes p?ra viagem
e vista também aquela
camisinha de flanela
p?ra quando abrir a janela
não se constipar co?a aragem.
E o senhor extraterrestre
viu-se um pouco atrapalhado,
quis falar mas disse pi,
estava mal sintonizado.
Mexeu lá no botãozinho
e pôde-me então dizer
que quer que eu vá visitá-lo,
que acha graça quando eu falo
ou ao menos p?ra escrever.
E o senhor extraterrestre
viu-se um pouco atrapalhado,
quis falar mas disse pi,
estava mal sintonizado.
Mexeu lá no botãozinho
só p?ra dizer: Deus lhe pague.
Eu dei-lhe um copo de vinho
e lá foi no seu caminho
que era um pouco em ziguezague
Wednesday, June 21, 2006
UBI SUNT- artigo de Vasco Graça Moura no DN 21-06-2066
Acaba de ser publicado um dos ensaios mais importantes que entre nós já foram dedicados aos problemas do ensino da língua e da literatura portuguesa. Trata-se de A Literatura no Ensino Secundário /Outros Caminhos, de José Augusto Cardoso Bernardes (ASA, 2006, col. "Como abordar ").
Professor da Universidade de Coimbra e autor de obras sobre a literatura portuguesa do Renascimento em que avulta a sua tese de doutoramento, Sátira e Lirismo/Modelos de Síntese no Teatro de Gil Vicente, JACB já tinha esboçado uma sugestiva proposta sobre Ler e Ensinar Gil Vicente (ainda) Hoje em Revisões de Gil Vicente (Angelus Novus, 2003).
Agora, o autor traça com objectividade, serenidade e firmeza a evolução do ensino da literatura a partir da década de 1970 e de concepções que radicavam ainda no Romantismo e no nacionalismo identitário do século XIX até à situação descabelada que hoje se vive, entre os pólos do excesso e da expiação E fá-lo com grande diplomacia, não vão as vestais universitárias dos ignominiosos programas que nos regem sentir-se excessivamente doloridas
JACB observa como se degradaram o estatuto e a dignidade do professor de Português, que soía ser uma referência em cada escola em termos de língua e de cultura, reduzido à condição de técnico especializado e passando a sentir-se "implicitamente desobrigado de incorporar nas suas aulas a vertente cultural que antes acompanhava o ethos filológico".
Nota como a Linguística contribuiu para consumar "primeiro na investigação e na docência universitária e, logo depois, nos programas e nas práticas de docência um lento processo de desnobilitação do texto literário, amortecido na sua dimensão de legado e, nessa medida, tornado equivalente a qualquer outro".
Associa todos esses excessos ao modelo de formação científico-pedagógica da grande maioria dos professores de Português que estão no activo.
Verbera o arredamento ou a menorização de importância quanto aos autores anteriores ao século XIX e diz, mais adiante, que "diminuir a presença da Literatura no Ensino Secundário em nome do reforço de objectivos de natureza linguística é, em si mesmo, um terrível equívoco educativo".
Faz notar que, "com a entrada em vigor dos novíssimos programas de Português ( ), a Literatura foi, pela primeira vez desde há cento e cinquenta anos, objecto de quase banimento: nos curricula do Ensino Secundário, onde foi remetida para um plano de evidente segregação ( ) e nos próprios programas de Português onde, para além de ser colocada a par de outros tipos de discurso, se tornou objecto de um estudo estritamente comunicacional".
E depois aponta caminhos. Eis alguns: "ter a coragem lúcida de ponderar a recuperação de algumas das soluções que constituíam êxito no passado"; "recuperação doseada da História, enquanto forma privilegiada de densificar culturalmente o texto literário, e da retórica (que o transforma em artefacto estético)", isto é, "dar a conhecer os escritores portugueses mais representativos num quadro de inteligibilidade histórico-cultural"; ter presente que, "afinal, a Literatura serve para ensinar Língua mas também serve para transmitir muitas outras coisas importantes"; "maior ênfase conferida aos conteúdos e ao seu enraizamento em coordenadas de pensamento e de sensibilidade"; "fomento de uma atitude interpelativa perante os livros"; "aposta na formação de leitores como contrapeso ao efeito de saturação normalmente produzido nos estudantes"; adequação do ensino da Literatura aos vários ciclos do ensino.
Dois pontos são ainda de salientar:
"Enquanto condensação privilegiada da aventura humana (apresentada em proporções muito variáveis de verdade e de ficção) a escrita literária assume-se como testemunho do itinerário profundo da humanidade, em níveis mais vantajosos do que qualquer outra disciplina, incluindo a História e a Filosofia";
"A Escola constitui, neste momento, o único espaço onde pode ocorrer a transmissão regular da cultura portuguesa", uma vez que "nem a televisão nem a família reúnem condições para desempenhar essa missão de forma sistemática".
Na parte prática do livro, JACB exemplifica com tópicos aliciantes e riquíssimos de sugestões para abordagem de textos de Gil Vicente, de Camões, de Miguel Torga e de Sophia. E aí está a ilusão por que este ensaio peca: onde é que estão hoje os professores capazes de dar aulas que se aproximem daquelas cujo modelo nos apresenta?
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